Depois de meses de espera, chegou a hora de conhecer o
Japão. Como a viagem é muito longa, sempre disse que quando fôssemos até lá,
necessariamente deveríamos fazer uma parada pelo caminho. O destino escolhido
foi a África do Sul!
Não começamos muito bem... de cara, um atraso de mais de
cinco horas no voo para Joanesburgo. Já estávamos esperando em São Paulo fazia
três horas, então resolvemos entrar na sala VIP.
Enfim chamaram o voo! Esse foi tranquilo. Mas o “não
começamos muito bem parte 2” apareceu. Na imigração, o agente insistia na
certidão de nascimento da Cecília. Só tínhamos o passaporte e a carteira de
identidade. Não conseguia entender a exigência... até que o cara cansou e nos
liberou. Ufa. Depois descobrimos que é uma exigência na África do Sul para
entrada e saída e crianças, embora na saída apenas nos foi exigido o documento
pela companhia aérea na hora de despachar a bagagem.
Nossas malas chegaram,
fizemos o câmbio (1 dólar – 12 rands), compramos o passe do Gautrain (151
rands/cartão recarregável 16 rands) e 15 minutos depois estávamos na estação
Gautrain Sandton. Uma breve caminhada e enfim chegamos no nosso hotel Garden
Court, já no final da tarde. Esse região é uma boa opção de hospedagem. Perto
do Gautrain, segura e bonita.
Teríamos dois dias inteiros em Joanesburgo. O que fazer? O
objetivo era não sobrecarregar demais os dias, porque teríamos uma longa viagem
pela frente. Então, safári ou passeios muito afastados foram descartados. Optamos com comprar um passe de ônibus hop on hop off para
dois dias, com tour pelo Soweto
incluído, o que custou 580 rands por adulto. Incluir o Soweto praticamente
dobra o preço, mas minha opinião é que valeu a pena.
Vista do Centro de Joanesburgo |
Fazendo o tour, descobri que Joanesburgo é uma cidade
bastante nova. Começou seu desenvolvimento com a corrida em busca do ouro
descoberto na região, no final do século XIX. Antes disso, não havia nada por
ali. Foi devido ao ouro que a cidade se desenvolveu, já que a sua localização
não é propícia para a construção de uma metrópole. A cidade fica a 1.700 metros
de altitude e não está próxima de qualquer fonte de água, seja do mar ou de
algum rio.
Aonde ir?
Começamos pelo Constitution Hill. Esse local nos mostra uma
antiga prisão, que misturou presos comuns e
políticos, ao lado do símbolo atual de uma democracia, a Corte Constitucional.
Local onde os presos eventualmente tomavam banho |
"Banheiros"ao fundo, em frente ao local onde os presos faziam as refeições |
Na prisão, é possível ver o tratamento desigual entre
brancos e negros, inclusive na porção e tipo de alimentação. O banho era pouco
frequente e o lugar para comer era ao lado dos banheiros abertos. Um dos piores
castigos era ir para a cela isolada, onde os presos ficavam 23 horas por dia na
cela escura e somente recebiam para
“comer” água de arroz. Embora fosse permitido ficar apenas um mês, muitos
passaram muito mais tempo.
Celas isoladas |
Artesanatos dos presos, feitos com cobertores, papel higiênico, etc. |
A democracia na África do Sul é recente e a Corte
Constitucional apenas foi implementada em 1995, a partir da nova constituição,
depois do fim do Apartheid. Em 1994, foi eleito o primeiro presidente pelo voto
popular, Nelson Madela, que havia saído da prisão em 1990. A Corte é composta
por 11 juízes e o plenário tem janelas pequenas para a rua, para demonstrar a
transparência e também para que os julgadores vejam o povo na rua.
Entrada da Corte Constitucional, com várias obras de arte |
Bancada dos 11 juízes da corte |
Parte externa da Corte Constitucional |
A visita guiada é
muito boa e útil para conhecer um pouco mais da história do lugar. Na visita de
uma hora, passamos pelo que sobrou da prisão, Number 4, e também pela Corte
Constitucional. Também é possível visitar o Old Fort e a Women’s Jail. Tem uma
visita de 2 horas, em dois horários, que faz uma visita completa.
Old Fort |
Women's Jail - celas isoladas |
No mesmo dia fomos ao Museu do Apartheid, que conta um pouco
dessa parte triste da história da África do Sul. Já na entrada, seu ingresso é
selecionado para entrar em uma das duas portas existentes: brancos ou não
brancos, que abrangia os negros, mulatos e asiáticos. Cada porta segue um caminho
diferente até o acesso à entrada do museu. Nesse caminho, havia muitas placas utilizadas
no regime de segregação, como de “europeus”, “não europeus”, “brancos”, “não
brancos” e fica difícil imaginar que esse é um passado recente da história da
África do Sul.
No segundo dia, fizemos a visita ao Soweto, além de todo o
circuito do tour do hop on hop off novamente. Embora o ingresso seja mais caro,
vale a pena conhecer essa cidade de 4 milhões de habitantes, um dos lugares
aonde foram colocados os negros no regime do Apartheid. Confesso que quando
entrei na van que faria o passeio quase me arrependi... eles não gostam de ar
condicionado, mesmo fazendo mais de 30 graus! Isso confirmei no aeroporto,
porque até ali era bastante quente.
O tour durou pouco mais de duas horas, fazendo várias
pequenas paradas durante o caminho.
Começou com uma parada no estádio que sediou a abertura e encerramento da
Copa do Mundo de 2010.
Entrada para o Soweto |
Depois paramos na Orlando Towers, que antigamente era
uma usina termoelétrica, que produzia energia apenas para a cidade de
Joanesburgo, deixando a forte poluição em Soweto, que não tinha energia
elétrica. Atualmente ela está desativada e tem um bung jamp para quem quiser se
aventurar.
Na sequência, paramos na praça, aonde um guia local contou
um pouco da história do lugar e de como era diferente a educação para brancos e
negros. Aos negros eram ensinadas atividades braçais, costurar, cozinhar e não
as mesmas matérias que os brancos tinham acesso. Ali também tem um feira de
artesanato africano, aonde comprei dois bichinhos de pedra por 100 rands.
Praça aonde foi morto Hector Peterson, no colo do seu irmão, na fotografia ao fundo. |
Feira de Artesanato |
Também paramos na Vilakazi Street, única rua no mundo aonde moraram duas pessoas que ganharam o prêmio
nobel da paz: Nelson Mandela e Tutu. O nome da rua é em homenagem ao educador
que traduziu pela primeira vez o dicionário zulu para o inglês. Nessa rua
também têm alguns restaurantes para quem quiser almoçar por ali. A abordagem de vendedores e alguns pedintes é grande. Prepare-se.
No Soweto, embora ainda tenha bastante pobreza, existem
várias casas muito boas, de pessoas que estudaram, melhoraram de vida, mas
continuaram morando ali.
Pobreza no Soweto |
O tour do hop on hop off começa e termina em Rosebank,
próximo da estação do Gautrain. Ali tem um complexo de lojas e restaurantes bem
legal, com mesas na calçada e uma grande área peatonal. Na última noite em
Joanesburgo, jantamos ali, no Ocean Basket, uma rede com vários restaurantes na
cidade e que serve frutos do mar.
Como estávamos hospedados em Sandton, acabamos jantando
outras duas noites na Nelson Madela Square. O lugar é muito agradável e cheio
de opções para refeições. Na primeira noite optamos pela praça de alimentação
mesmo. Na segunda noite, dia do meu aniversário, escolhemos um restaurante na
praça, o Trumps. Ele é muito bem avaliado no tripadvisor, número 2 de mais de
1200 restaurantes da cidade.
Nelson Mandela Square |
Passamos de ônibus pelo Melrose Arch, que é outro complexo
de restaurantes e lojas, e também pareceu muito interessante.
Enfim, em dois dias dá para ter uma boa noção dessa cidade
imensa. Se tiver apenas um dia, é imprescindível conhecer o Constitution Hill e
o Museu do Apartheid, para aprender um pouco sobre a história da cidade e do
país.
Por fim, alguns apontamentos sobre Joanesburgo:
Tanto nos hotéis, quanto nos restaurantes, lojas e outros
serviços, praticamente são apenas funcionários negros.
O país tem 11 línguas oficiais.
Muitas mulheres têm os cabelos trançados ou raspados. Nunca
vimos tantos cabelereiros num mesmo lugar!
O desenvolvimento da cidade deu-se pelas minas de ouro.
Tem muitos parques e lugares para as pessoas
aproveitarem a natureza.
A cidade não nos pareceu tão perigosa, quanto a propaganda
negativa que fazem dela.
Mahatma Gandhi morou vários anos na cidade. No centro da
cidade, tem uma praça com seu nome e uma estátua de Gandhi vestido de toga. Ele
era advogado e no prédio em que tinha seu escritório não lhe era permitido usar
o elevador, devido a sua cor.
Estátua de Gandhi |
E chegou a hora de deixar Joanesburgo para trás e seguirmos
para o principal destino dessa viagem:
Japão
Nenhum comentário:
Postar um comentário